O jogo da calcinha bege

Sempre quero escrever sobre assuntos não permitidos. Sou romântica, sou cafona. Quero falar muitas coisas mas é preciso ter cuidado, a gente tem que se preservar e se reinventar sempre.
A dica é: não se mostre. Não se mostre nunca. Sempre fui contra joguinhos. Se eu ligo, estou demonstrando interesse. Se não ligo, não demonstro que quero. Mas depois de algumas experiências, vejo que o jogo é necessário. As pessoas não funcionam sem jogos. É tudo muito louco, acompanhem comigo… se quero algo, não posso mostrar que quero. Acho isso um absurdo, mas o conselho mais comum que recebo é: finja que não está nem aí. Nasci com defeito, não sei fingir. Resultado: vou ficar solteira pra sempre. Caso isso de fato aconteça, já aviso que serei bem feliz. Não terei que mudar meu jeito por ninguém, e meu gato provavelmente vai me amar como sou. Vou poder usar calcinha bege. Vou poder deixar a toalha molhada na cama. Vou poder dormir ocupando a cama toda. Claro que existem alguns contras, mas já estou velha. Tenho preguiça de me adaptar ao outro. Goste de mim como sou ou se retire, porque honestamente, não vou mudar. E nem quero.

Particularidades

Da minha dor só eu sei. Dor é tão particular quanto sexo. Nas duas situações, só as paredes do quarto escutam. Em uma, os gemidos. Na outra, os soluços. Tenho uma amiga que diz: Você gosta de sofrer, se acostumou. Deve ser o mesmo com o sexo. Nunca fui fã de textos descritivos. Acho uma chatice reproduzir o que se vê, mas agora devo anotar: Vejo meu rosto pálido embebido em lágrimas provocadas por mais uma besteira qualquer. Eu já as conheço, elas já me toleram. Rolam sem cerimônia pelos caminhos tortos de minha face mal desenhada. Deve ser mais um bocado de nada de novo. Mais do mesmo, sabe como é.