1 milhão de vícios

Acho que me cansei de escrever
Não sinto vontade
Meu coração não fala
Nada é motivo

Estou lendo um livro
Acompanhando histórias
Elas não saíram de minhas mãos
Pouco importa

Tenho 1 milhão de medos
Ouço 1 milhão de gritos
Mas 1 milhão de letras
Já não me arrepiam

Todo esse tempo
Já não significa nada
Quando na vida não vemos sentido
Quem morre é a palavra

Cria

Sou eu
Só eu
Somente eu
Me olhando

Examino-me com cuidado
Vejo que nada disso
Vai vingar
Vai suportar

Minhas carnes
Meus ossos
Nem me preocupo
Vou pra lá

Tem uma coisa engasgada
Logo aqui onde não deveria ter
Minha garganta dói
Porque quer despejar algo

Já lhe digo:
Se cria és, de suas criações
Viverás criando
Viverás de falsos bordões

O nada vem do nada
Se você não anda
Continua sendo zero
Zero, estático

Essa vida é uma babaquice
Quando eu morrer
Vou perguntar pra Deus
É agora que começo a viver?

Vem cá

Minhas coisas estão jogadas e não vou recolhê-las. Minha mãe está desapontada, mas não posso ajudá-la. Seu copo está sujo, lave-o. Sua roupa está amarrotada. Estão me atirando flores, mas parecem tijolos. Confundo o que quero e o que não quero. Vago sozinha nas ruas esperando meu show continuar. Egoísmo puro, meu, seu, de todo mundo. Nosso egoísmo bonito, poético e voraz. Morde minha boca e torce meu braço… congela meus ossos e amarga meus casos. Te prometo um futuro que não sei se quero pra mim, proteção, solidão. Seu desprezo assassinou minha vontade de caminhar. Vou puxar uma cadeira e aguardar os pensamentos ruins irem embora. Muitas vezes uma bala na cabeça é o que não temos coragem de dizer. Muitas vezes, não tenho coragem nem de viver. Quanto mais de morrer. Morrer dá trabalho. Sofrimento demanda energia. E é por isso que mesmo morta, ainda vivo. Mais que muitos, mais que todos. Vivo porque não há nada melhor pra fazer. Eu poderia estar tomando um café, comendo um pão. Mas estou morrendo um pouco mais. Cada dia mais. Vem cá, me dá um abraço.